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sábado, 11 de dezembro de 2010

Aprazível viagem


Surgiste perante mim envolto num luzente papel prateado, mostrando apenas as formas visíveis aos olhos de qualquer um, deixando ocultos todos os pormenores que só quem te abraça pode vir a conhecer.
Só aos poucos me apercebo que trazes no regaço doces frutos vermelhos suportados por toda uma natureza que és tu. Envolves-me num aroma e brindas-me com deliciosos momentos. Esqueço-me que estou longe de casa, perdida numa causa que não é minha e deixo que adoces mais um amargo momento. E assim, transformas um sofredor trajecto numa aprazível viagem.
E agora que estou de novo no meu quarto, prestes a seguir por um atalho, olho para o lado e lá estás tu. Continuas com o teu meigo sorriso e lembras-me que mesmo sem nada nos podemos sentir afortunados.

Para a Fábrica de Letras

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Equilíbrio


Ao longe avisto a minha casa, apresso-me a procurar as chaves e em instantes já me encontro a abrir a porta.
Entro e chamo por ti, mas nada rompe o gélido silêncio que paira no ar.
Dirijo-me para o quarto e não ligo as luzes, opto simplesmente por acender as velas.
Aos poucos o ar transforma-se uma miscelânea de fragrâncias e eu desejo ansiosamente que um desses aromas seja o teu. Surpreendentemente, todos eles me levam até ti. Talvez porque estás, cada vez mais, marcadamente em mim.
Deito-me e adormeço envolta em memórias, que me relembram os dias em que me deste todo o teu equilíbrio, arriscando cair.
Na leviandade dos sonhos, tenho a percepção de que são actos heróicos, o que fazes por mim.
E momentos depois, o sono é inesperadamente interrompido com o soar da campainha que me acorda abruptamente. Corro para a porta, abro-a e ali estás tu com o teu sorriso meigo, pronto para uma vez mais me harmonizar.
Abraço-te e sinto que nunca me vais deixar cair, assim como eu jamais deixarei de te amar.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Adaptação natural


Os castanhos invadem a paisagem, chegou a hora de me sentar naquele banco de jardim e pensar no porquê da vida nem sempre ter cor.
Ao chegar, sento-me vendo o vento soprar, arrastando as velhas folhas que agora se encontram fracas e quebradiças, e eu acabo por desejar que uma forte rajada de vento me levasse os tristes pensamentos.
Vejo como a natureza se adequada às mudanças, como tudo parece naturalmente fácil.
Porque é que o Homem não se adapta espontaneamente às diferentes circunstâncias? – Pergunto-me em voz alta. E nesse instante um senhor de pele da cor da terra, marcadamente rugosa aparece ao meu lado e diz: O Homem é um ser livre e cada ser humano é único, por isso deve viver tudo por si mesmo, deve deixar que os outros o julguem e que dos seus erros retirem ensinamentos.
Estas palavras voaram até mim, assentaram sobre a minha mente e geraram desordem. A dúvida tomava agora o lugar da questionação e ao começar a falar, a voz dele sobrepôs-se à minha e uma misteriosa frase soou uma vez mais:
Podes ver cores de Outono, mas no teu peito batem as cores da vida, não as deixes esmorecer, vive e realça-as.
E acabadas estas palavras o senhor desapareceu, esfumou-se num ápice e eu levantei-me pronta para seguir um novo caminho.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Talvez pudesse


Talvez pudesse ter super-poderes, ser perfeita, agarrar em espinhos e transformá-los em rosas.
No entanto, nunca serei brindada com esses dons e hoje as minhas mãos estão cortadas e repletas de sangue, pois eu sou apenas uma fraca.
Devia levantar a voz e gritar loucamente "Até nunca!", mas não sou capaz, por mais que o deseje.
Não sei aguentar, não sei disfarçar, quero desaparecer e a minha história apagar.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Berço da fantasia


Cantas-me mais uma canção de embalar e fazes-me sonhar acordada.
Envolves-me em nuvens de tons doces e suaves que me fazem sentir adormecida. Fico atordoada com tanta perfeição e perco-me na ilusão.
Adormeço no berço da fantasia que juntos construímos ao partilharmos o céu, ao brincarmos nas nuvens e ao sentir o seu delicado toque.
Porém inexplicavelmente paraste de cantar, de me acarinhar, de me fazer voar.
E assim, o berço desfez-se e os meus olhos vêem agora o que antes não viam.
Deixaste-me cair, roubaste-me o meu ninho e deste-me apenas a desilusão.
Tenho as mãos cheias de nada, estou inteiramente vazia, pois tu apagaste a minha vontade de sonhar.
E sem forças para continuar faço-te um último pedido:
- Por favor volta a cantar para mim, prenda-me com a tua doçura e embala-me eternamente.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Grãozinhos de coragem


Fui amontoando os grãozinhos de coragem que encontrei aqui e ali, que germinaram do sonho. Pensava possuir a atmosfera. A atmosfera que eras tu, contudo enganei-me.
Tentei libertar, libertar-me. Fi-lo, mas tu impiedosamente tiraste-me o oxigénio. Caí desprotegida, fiquei sem respirar! Acreditava nas nuvens que me iriam amparar, mas essas desfizeram-se à minha frente triste e lentamente. A causa foste tu e ainda a és. A pergunta que me persegue é ainda “Porquê?”, da qual desconheço a resposta. Resposta que até tu desconheces.
A tua acção veio como um marco dos teus desejos, do teu sonho. Sonho que me impuseste, sonho que nunca fora meu. O meu perdera-o à muito quando o teu olhar sinistro e a tua voz pavorosa o rejeitaram.
Não sei quem conseguirei perdoar. Serei capaz de te perdoar e de me perdoar?
Os teus erros aceitá-los-ei um dia, mas os meus jamais!
Os grãozinhos de coragem flutuam no ar, talvez um dia vá em sua busca, no dia em que reconstruir as asas que tu tão friamente me tiras-te.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Gaiola de compaixão


Desde que construiu o seu próprio mundo que sempre teve a companhia do seu lindo pássaro azul.
Ao início não sabia bem como lidar com ele, porém colocou-o numa gaiola, pois tinha medo que ele fugisse. Era uma dona muito dedicada, tratava-o como se ele fosse o seu mundo. Afeiçoou-se a ele. Chorava tantas vezes frente a ele, ria ao vê-lo, sentia-se feliz ao ouvi-lo, mesmo quando o seu chilrear a acordava durante a noite.
Todavia um dia ele deixou de chilrar para ela, ela alimentava-o e ele quase não comia, falava para ele e ele mostrava-se desinteressado.
Este acontecimento fê-la reflectir, fê-la ver como se tinha revelado egoísta ao mantê-lo preso dentro da gaiola. Deste modo, concluiu que o melhor era devolver-lhe a liberdade.
Abriu a porta da gaiola e ele manteve-se estático, então ela pegou nele, abriu a janela e poisou-o à frente dela. Ele sem hesitar voou, não para a rua, mas de volta para a sua gaiola.
Apesar de não compreender a atitude dele não o forçou, mas deixou a janela aberta com esperança que ele partisse.
Passaram meses e ele mantinha-se lá e a janela permanecia aberta, apesar de já ter terminado o Verão e estar a chover.
Preocupada, levantou-se da cama, erguendo junto a ela a culpa, correu para a sala e viu-o a olhar para a janela. E não querendo mais ser culpada da infelicidade dele pegou-lhe e disse-lhe que a partida dele não seria somente benéfica para ele, pois ela adorava-o e o bem dele era o bem dela. Podia chorar a sua ausência, mas iria sentir-se bem mais leve ao saber que ele ia ter a vida que ele próprio escolheria.
Ambos deixaram cair uma lágrima e o passarinho voou pelo céu fora.

domingo, 22 de agosto de 2010

O brilho da dor


Foi invadida por algo e não sabendo do que se tratava sentiu-se reprimida e começou a soltar inúmeras lágrimas que logo se cristalizaram, impedindo o invasor de se expandir dentro de si.
Tornou-se forte mesmo não o sendo, defendeu-se mesmo não estando numa guerra.
E após consolidar as suas ideias, as lágrimas transformaram-se num bonito material orgânico duro e esférico. Assim, dentro de uma concha disforme, nasceu o mais belo e doce brilho formado pela dor.
Agora apenas deseja desnudar-se para dar o seu fulgor ao mundo e ser digna de olhares e elogios.
Porém esta não seria uma realidade se o invasor não tivesse entrado na sua vida, por isso ela agradece todos os dias o facto de ele a ter magoado, pois essa mágoa deu outro rumo à sua existência, convertendo-se na sua oportunidade de brilhar.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Balão sem ar


Inspirei bem fundo, pois já me ardia o peito de expelir tanto ar.
Mas o que é um ardor no peito quando comparado com uma dor de alma? Absolutamente nada – exactamente o mesmo que me restava, pois até o meu pequeno balão encarnado estava agora sem ar.
E eu precisava de mais e mais ar para encher a maior quantidade possível de balões e mesmo não o tendo, tinha que continuar.
Após terminar, peguei no rolo de guita, cortei vários bocados e atei todos os balões, aprisionando-os, tal como um dia fizeste comigo.
De seguida, amarrei o aglomerado de balões aos meus braços e deixei de sentir o chão. Estava finalmente a partir para outro lugar, para o desconhecido. Sentia as nuvens da incompreensão e os raios da desilusão. Todavia já nada me afectava, porque estavas longe e mesmo estando a perder os balões sabia que não ia voltar, porque afinal de contas tudo tem um princípio e um fim.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

(H)era amor


Sentei-me uma vez mais de frente para ti e lá estavas tu com teu tom verde radioso e sempre a trepar, tornando-te cada vez maior.
Sabia que não eras um ser humano, que não ouvias o que te dizia e muito menos me podias responder. Contudo falar para ti acalmava-me, fazias-me sentir compreendida e acompanhada. E naquele dia falei até a voz me doer. Queria chorar, mas não podia, pois tinha prometido que não voltaria a fazê-lo ao pé de ti. Então fechei os olhos durante vários minutos e ao reabri-los vi que estavas coberta de gotas de água. Olhei para o céu e este mantinha-se limpo, olhei para mim e eu permanecia seca. Então o que seria aquilo?
E no meio dos meus pensamentos confusos ouvi uma voz.
- Eu choro por ti, porque quem ama sofre e torna o impossível em realidade.
E nesse momento percebi que afinal era amor – o sentimento que nos transforma.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Flutua comigo


Eram já três da manhã, o corpo dele estava tenso, afundava-se a cada instante, era necessária uma pessoa munida de alguma robustez para o auxiliar, mas só estava lá ela, que pouco devia à força. Contudo, sempre fora uma combatente e não iria certamente deixá-lo desaparecer. Atirou-se à água e tentou puxá-lo, porém algo anómalo estava a acontecer, ele ao invés de se deixar salvar tentava afogar-se.
Após infindáveis tentativas de salvamento, o corpo dela ficou à tona, deixando o jovem estático. E, subitamente, começaram a esvoaçar camélias por cima deles, acabando por assentar sobre o corpo dela, fazendo-a despertar. Ele surpreendido pediu-lhe perdão e ela apenas disse: - De hoje em diante não remes mais contra a maré, flutua comigo.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O céu da vida

Espero pelo silêncio que me acalma, não pelas palavras que me enganam…
É duro o presente, é melancólico o passado e é um mistério o futuro. Por conseguinte, irei seguir o agora, abandonar o depois e resguardar o que tenho, mantendo-me fiel a mim mesma.
Sei que são dores o que a tua ausência me causa, porém a tua presença nem sempre sei o que provoca. E assim é o céu da vida que, por vezes, nos brinda com uma esplendorosa luz, mas outras apenas nos deixa as suas lágrimas e o seu pesar. E debaixo do céu nublado começo agora a criar as minhas próprias luzes que provêm do coração que está pronto para todas as tempestades, mas nunca sem as tuas palavras de amor.

terça-feira, 20 de abril de 2010

O nosso dia

Por entre as árvores e toda a indisciplinada florestação, fixo o meu olhar em tudo e em nada, procurando-te, ansiosa por te sentir.
E de repente, o céu nublado dá lugar a um sol fulgurante que incide sobre ti, tornando-te o coração de tudo, ou pelo menos o meu.
Observo-te enquanto passeias à beira do lago e tropeças nas pedras que transformas em penas, fazendo destas sonhos e dos sonhos a felicidade real.
Ao querer ser a tua realidade aproximei-me de ti e tu sem hesitar usaste, uma vez mais, a tua magia que cola cacos concebendo Obras de Arte.
Por fim, abraças-me e eu sussurro ao teu ouvido “Obrigada por tornares o meu dia no nosso dia”.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Missão de Fogo


Sou apenas fragmentos daquilo que fora à tempos.
A ignorância e inocência de criança abandonaram-me e agora apenas me resta a desilusão. Tudo o que consigo manter é a mágoa, que me invade, que me destrói, que corrói o meu ser.
Não há viver, somente existência.
Em mim encontro aceso o fogo da tristeza.
O que me resta é destruir o pouco que ainda tenho e aos poucos afundo a cor e afogo-me na minha escuridão. Não me vou salvar do que me fora designado.
Resta-me mentalizar-me e autodestruir-me.
A tristeza irá incendiar-me e terei cumprido o que cumprido teria de ser.

sábado, 10 de abril de 2010

Rapariga-Sonho

Chegara a hora de todas as verdades e lá estava ela, a “Rapariga Sonho”, chamavam-lhe assim por causa do seu sonho de poder mergulhar o mundo num livro tão cor-de-rosa como as suas fantasias de criança.
O seu verdadeiro nome é segredo, tem uma tenra idade e a escrita significa para si o que a água representa para o Homem.
Tudo começou quando era uma adolescente de 13 ou 14 anos e naqueles dramas característicos dessa fase, sentiu a revolta contra o Mundo o que a fez tropeçar nesta relíquia denominada escrita.
Estava consciente da ficção do seu sonho e neste momento gostaria somente que lhe dessem uma sincera opinião acerca dos textos da sua autoria.
E agora, enquanto aguarda por uma opinião senta-se na sua cadeira da imaginação, a ler. Quer saber quais os truques para escrever de uma forma tão fascinante, quer poder cativar o mundo pelas palavras.
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