
Podia mentir, contudo na realidade sempre quis voltar, em momento algum me senti em casa, ali no meio do nada do mundo.
Olhava-me e via apenas mais um corpo, voltava a olhar e não via a alma que perdi antes de me perder.
Assim, foi nesta ilha seca e húmida, rodeada de um mar de decepções que cresci, onde mais ninguém se atrevera a entrar e ficar, pois na realidade nunca cá estiveram verdadeiramente.
No entanto, este lugar apesar de estar à parte é como o mundo, há-de ter o seu fim um dia e, para mim, já o teve.
Hoje digo que por fim que terminei a longa caminhada, desci as frágeis escadas e encontrei o barco que me transporta agora para perto.
As ondas espelham ainda as naufragantes etapas e as abundantes lágrimas que as compõem. Espero que a natureza as rebente com a sua maior força, mas que não as leve para o esquecimento, porque nelas não quero voltar a afogar-me.
E nesta viagem contemplo o já passado em que tristemente todos os objectivos foram cumpridos, melhor do que alguma vez imaginei.
Anseio agora que todo o oceano seja capaz de matar a sede de vencer que trago ao peito, que me sacie a vontade de viver e que me mostre que nunca é tarde para mudar.
Sei que vou conseguir, conto finalmente comigo e agora que me tenho nunca mais me vou destruir, porque sou aquilo que preciso e não vou mais desperdiçar este belo horizonte.
Sinto-me bem, estou além-mar, prestes a alcançar o céu.